2.3 MATRIZ DE UMA TRANSFORMAÇÃO LINEAR

 

 

            Neste tópico veremos que, num certo sentido, o estudo das transformações lineares pode ser reduzido ao estudo das matrizes. Vimos, no exemplo 2.1.10, que a toda matriz mxn está associada uma transformação linear T:Rn® Rm. Vamos agora estabelecer o seu recíproco, isto é, uma vez fixadas as bases de V e de W, a toda transformação linear T:V® W estará associada uma única matriz.

            Sejam T:V® W uma transformação linear, a uma base de V e b uma base de W. Sem prejuízo à generalidade, vamos considerar o caso em que dim V = 2 e dim W = 3, tomando a = {v1, v2} e b = {w1, w2, w3}.

Um vetor v Î V pode ser dado por

v = x1v1 + x2v2 e

 

( 1 )

e a sua Imagem T(v), que é um vetor de W, por

T(v) = y1w1 + y2w2 + y3w3 e

 


( 2 )

De outro modo temos

T(v)T(x1v1 + x2v2) = x1 T(v1) + x2 T(v2)

 

( 3 )

com T(v1) e T(v2) vetores de W, que podem ser escritos como combinação linear dos vetores de b , ou seja,

T(v1) = a11w1 + a21w2 + a31w3

 

( 4 )

T(v2) = a12w1 + a22w2 + a32w3

( 5 )

Substituindo ( 4 ) e ( 5 ) em ( 3 ) temos

T(v) = x1(a11w1 + a21w2 + a31w3) + x2(a12w1 + a22w2 + a32w3)
= a11x1w1 + a21x1w2 + a31x1w3 + a12x2w1 + a22x2w2 + a32x2w3

ou

   T(v) = (a11x1 + a12x2)w1 + (a21x1 + a22x2)w2 + (a31x1 + a32x2)w3

que fornece

[T(v)]b =

 


( 6 )

Comparando ( 6 ) com ( 2 ) obtemos:

ou, na forma matricial,,

o que simbolicamente podemos expressar por:

onde é denominada a matriz de T em relação as bases a e b , para a qual destacamos:

* A matriz é um operador que transforma [v]a (coordenadas de v na base a ) em [T(v)]b (coordenadas da imagem de v na base b );

* Sendo T:V® W com dim V = n e dim W = m temos de ordem mxn;

* Considerando a = {v1, v2, ..., vn} e b = {w1, w2, ..., wn} bases, respectivamente, de V e W temos

ou seja, as colunas de são, respectivamente, o vetor das coordenadas das imagens, pela T, dos vetores da base a de V, em relação à base b de W.

* A matriz depende das bases a e b . Assim, uma mesma transformação tem infinitas matrizes que a representa porém, uma vez fixada a dupla de bases, a matriz da transformação é única.

 

2.3.1 Exemplo. Seja T:R2® R3; T(x, y) = (x + y, – x, – 2y).

2.3.1.1 Dadas as bases a = {(1, 1), (2, – 1)} e b = {(1, 1, 1), (1, – 1, 0), (0, 1, – 1)} de R2 e R3, respectivamente, e o vetor v = (1, – 1) Î R2, obter as coordenadas da imagem, [T(v)]b , na base b .

Solução.

a) Primeiro modo: escrevendo T(v) como combinação linear dos vetores de b .

T(v) = T(1, – 1) = (0, – 1, 2), que são as coordenadas de T(v) na base canônica. Para obtê-las na base b fazemos:

(0, – 1, 2) = a(1, 1, 1) + b(1, – 1, 0) + c(0, 1, – 1), que fornece a = 1/3, b = – 1/3 e c = – 5/3, portanto,

;

b) Segundo modo: pela relação

* cálculo de :

T(1, 1) = (2, – 1, – 2) = a1(1, 1, 1) + b1(1, – 1, 0) + c1(0, 1, – 1) \ a1 = – 1/3, b1 = 7/3 e c1 = 5/3

T(2, – 1) = (1, – 2 ,2) = a2(1, 1, 1) + b2(1, – 1, 0) + c2(0, 1, – 1) \ a2 = 1/3, b2 = 2/3 e c2 = – 5/3.

Portanto, ;

* cálculo de [v]a

(1, – 1) = a(1, 1) + b(2, – 1) Þ a = – 1/3 e b = 2/3 Þ [v]a = ;

Daí, ¨

 

2.3.2 Exemplo. Seja T:R3® R3
                               (x, y, z)(3x – 4y, 3y + 5z , – z)

Sejam a = {(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)} e b = {(1, 0, 0), (0, 1, 0), (4, – 5, 4)} bases do R3.

Para distinguir as diferentes notações e matrizes, achemos:

a) b) c)

 

2.3.3 Exemplo. Considerando as bases canônicas A = {(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)} e B = {(1, 0), (0, 1)} do R3 e do R2, respectivamente, e a transformação linear T:R3® R2 definida por T(x, y, z) = (x + y, yz).

a) Determinar a matriz de T nas bases A e B;

b) Se v = (2, 1, – 3), calcular [T(v)]B utilizando a matriz obtida em a).

Solução.

a) T(1, 0, 0) = (1, 0) = 1(1, 0) + 0(0, 1)
T(0, 1, 0) = (1, 1) = 1(1, 0) + 1(0, 1)
T(0, 0, 1) = (0, – 1) = 0(1, 0) – 1(0, 1)
Þ .

 

Observação.

* Sendo A e B as bases canônicas dos espaços domínio e contra-domínio, como é o caso desse exemplo, a matriz é chamada matriz canônica de T e podemos escrever simplesmente [T].

* Comparando a matriz [T] com a lei que define a transformação T, verifica-se que cada linha é a "expressão" da correspondente componente da imagem.

Temos:

.

b) [T(v)]b = [T(v)] = [T(2, 1, – 3)] == \ T(v) = (3, 4).¨

 

            É importante destacar que em muitos casos procura-se por uma matriz que represente uma transformação linear T de uma forma simples, tipo diagonal ou triangular. Com escolhas adequadas das bases a e b isso, em muitos casos, é possível, como veremos no estudo de diagonalização de operadores.

 

Observação: Nesta unidade trabalharemos com uma única lista de exercícios envolvendo todas as sub-unidades 2.1, 2.2, 2.3 e 2.4

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