2.2 NÚCLEO E IMAGEM DE UMA TRANSFORMAÇÃO LINEAR
2.2.1 Definição.
Sejam V e W espaços vetoriais e seja T:V® W uma transformação linear.
(i) O núcleo de T, denotado por Nu(T), é o conjunto de todos os vetores de V que têm imagem nula.
Î W que são imagem dos vetores de V.Nu(T) = {v Î V; T(v) = 0}
Obs: O núcleo de T é também chamado kernel de T ( ker(T) ).
(ii) A imagem de T, denotada por Im(T), é o conjunto de todos os vetores w
Î W; w = T(v) para algum v Î V}.Im(T) = {w
Observação. Nu(T) nunca é vazio, pois contém, pelo menos, o vetor nulo do espaço domínio.
De fato, T(0) = 0, pois T linear. Assim, 0 Î Nu(T).
Note que T(0V) = 0W, onde 0V e 0W indicam o vetor nulo de V e W, respectivamente.
2.2.2 Propriedades do Núcleo e da imagem.
Se T:V® W é uma transformação linear então
Propriedade 1. Nu(T) é um subespaço vetorial de V;
Propriedade 2. Im(T) é um subespaço vetorial de W.
É fácil verificar a primeira propriedade, faça isso como exercício.
Verificando a propriedade 2:
Como w
1 Î Im(T), $ v1 Î V tal que T(v1) = w1, do mesmo modo, como w2 Î Im(T), $ v2 Î V tal que T(v2) = w2.Então, | a) w1 + w2 = T(v1) + T(v2) = T(v1 + v2) \ w1 + w2 Î Im(T) |
b) a w1 = a T(v1) = T(a v1) \ a w1 Î Im(T) |
Logo, por a) e b) temos que Im(T) é um subespaço de V.
2.2.3 Exemplo. Núcleo e imagem da transformação nula,
T:V® W; T(v) = 0.
a) Núcleo de T:
Pela definição 2.2.1, os vetores que pertencem ao núcleo de uma transformação são os que têm o vetor nulo como imagem. Considerando a transformação T dada, qualquer vetor v Î V tem como imagem o vetor 0 Î W. Dessa forma,
Nu(T) = V
b) Imagem de T:
Se todos os vetores v Î V tem como imagem o vetor nulo, então ele é o único vetor que pertence à imagem de T. Assim,
Im(T) = {0}.
¨
2.2.4 Exemplo. Núcleo e imagem da transformação identidade
T:V® V; T(v) = v
a) Núcleo de T:
A transformação identidade caracteriza-se pelo fato de que a imagem de cada vetor v Î V (domínio) é o próprio vetor v Î V (contra-domínio). Ainda, como o núcleo contém todos os vetores de V cuja imagem é o vetor nulo, temos que o único vetor pertencente ao núcleo de T é o vetor 0, ou seja
Nu(T) = {0};
b) imagem de T:
Como todo vetor v Î V é imagem de si mesmo temos
Im(T) = V.
¨
2.2.5 Exemplo. Núcleo e imagem do operador projeção:
a) T
1: R2® R2; T1(x, y) = (x, 0)
* Nu(T1) = {(0, y); y Î R} | * Im(T1) = {(x, 0); x Î R} |
* Uma base do Nu(T1): b = {(0, 1)}, pois (0, y) = y(0, 1) |
* Uma base da Im(T1): b = {(1, 0)}, pois (x, 0) = x(1, 0) |
* dim Nu(T1) = 1 | * dim Im(T1) = 1 |
b) T
2:R3® R3; T2(x, y, z) = (x, 0, z)* Nu(T2) = {(0, y, 0); y Î R} | * Im(T2) = {(x, 0, z); x, z Î R} |
* Uma base do Nu(T2): b = {(0, 1, 0)}, pois (0, y, 0) = y(0, 1, 0) |
* Uma base da Im(T2): b = {(1, 0, 0), (0, 0, 1)}, pois (x, 0, z) = x(1, 0, 0) + z(0, 0, 1) |
* dim Nu(T2) = 1 | * dim Im(T2) = 2.¨ |
Outra propriedade, que não demonstraremos aqui, mas que pode ser útil na conferência de resultados é a seguinte:
Se T:V® W é uma transformação linear então
Confira esse resultado nos exemplos anteriores, dessa sub-unidade.
2.2.6 Exemplo. Considere a transformação linear f :
R5® R3 dada porf (x, y, z, s, t) = (x + 2y + z 3s + 4t, 2x + 5y + 4z 5s + 5t, x + 4y + 5z s 2t)
a) Determine o Nu(f ), uma base e sua dimensão.
b) Determine a Im(f ), uma base e sua dimensão.
Solução.
a) v Î Nu(f ) Û f (v) = 0 Þ
(x + 2y + z 3s + 4t, 2x + 5y + 4z 5s + 5t, x +4y + 5z s 2t) = (0, 0, 0) ou
\ Nu(f ) = {(x, y, z, s, t) Î
R5 / x = 5y 7z + 5t e s = y 2z + 3t}Uma base do Nu(f ):
( 5y 7z + 5t, y, z, y
2z + 3t, t) = y ( 5, 1, 0, 1, 0) + z(
7, 0, 1, 2, 0) + t(5, 0, 0, 3, 1)
\ Nu(f ) = [( 5, 1, 0, 1, 0), ( 7, 0, 1, 2, 0), (5, 0, 0, 3, 1)].
Buscando dentre os geradores, um conjunto l.i.:
\ os vetores geradores do Nu(f ) são l.i.
Logo, uma base do Nu(f ) é {( 5, 1, 0, 1, 0), ( 7, 0, 1, 2, 0), (5, 0, 0, 3, 1)} e dim Nu(f ) = 3.
b) Para a Im(f ): o seu vetor genérico é
(x + 2y + z 3s + 4t, 2x + 5y + 4z 5s + 5t, x + 4y + 5z s 2t) = x(1, 2, 1) + y(2, 5, 4) + z(1, 4, 5) + s( 3, 5, 1) + t(4, 5, 2)
\ Im(f ) = [ (1, 2, 1), (2, 5, 4), (1, 4, 5), ( 3, 5, 1), (4, 5, 2) ]
Buscando, dentre os geradores, um conjunto l.i e o conjunto Im(f):
\ Im(f) = {(x, y, z) Î R3; 3x 2y + z = 0} ou
= {(x, y, 3x + 2y); x, y Î R}
Uma base da Im(f ) = {(1, 2, 1), (2, 5, 4)} e dim Im(f ) = 2.
Outra base: {(1, 2, 1), (0, 1, 2)}.
Ou ainda, observando que
(x, y, 3x + 2y) = x(1, 0, 3) + y(0, 1, 2)
escrevemos a base {(1, 0, 3), (0, 1, 2)}
Ainda, de a) e b) temos dim Nu(f ) + dim Im(f ) = 3 + 2 = 5 = dim
R5.¨
2.2.7 Exemplo. Seja L:
R3® R3.
a) |
b) |
c) Encontre Im(L). |
d) |
e) Encontre Nu(L). |
Solução.
a) Temos como o
vetor genérico de Im(L).
Se Î Im(L), então
para algum x, y, z. Resolvendo a equação
obtemos
Logo, Î Im(L) pois existe v =
Î R3 tal que L(v)
=
.
b) Do mesmo modo, se Î Im(L), então
.
Assim, .
c) O vetor genérico da Im(L) pode ser escrito assim:
.
Portanto, Im(L) = [w
1, w2, w3], ondeAlém disso, os vetores geradores de Im(L) são l.i. (verifique), e, portanto,é uma base de Im(L). Sendo
essa base de Im(L) um conjunto de 3 vetores l.i. do
d) .
Como , concluímos que
Ï
Nu(L).
e) Sabendo que vÎ Nu(L) se e somente se L(v)
= 0, temos que,
cuja única solução é o vetor
. Assim, Nu(L) = {0}. ¨
2.2.8 Exemplo. Seja L:
P2® P1; L(at2 + bt + c) = (a + b)t + (b + c).a) 2t + 2 Î Im(L)? | b) t2 t + 1 Î Nu(L)? |
c) Encontre uma base para Im(L); | d) Encontre uma base para Nu(L). |
Solução.
a) 2t + 2 Î Im(L) | Þ $ p(t) = at2 + bt + c tal que L[p(t)] = 2t + 2 |
Þ (a + b)t
+ (b + c) = 2t + 2 Þ ![]() Þ a = c e b = 2 c |
Portanto, 2t + 2 Î Im(L), pois L(ct
2 + (2 c)t + c) = 2t + 2, " c Î R.b) Devemos verificar se L(t
2 t + 1) = 0.c) Sendo L[p(t)] = (a + b)t + (b + c), vamos
associar o vetor (a + b, b + c) ao polinômio L[p(t)].
Assim, o vetor genérico da imagem é (a + b, b + c) = a(1,
0) + b(1, 1) + c(0, 1). Buscando os vetores l.i. no conjunto gerador {(1,
0), (1, 1), (0, 1)} obtemos {(1, 0), (0, 1)} para como um conjunto gerador l.i.
Associando, a cada um desses vetores, um polinômio p(t), temos que b
d) Sabemos que p(t) Î Nu(L) se e somente se L[p(t)]
= 0.
Dessa forma, L[p(t)] = L(at
Portanto, L( bt
2 + bt b) = 0, " b Î R.Para obter uma base do Nu(L) associamos o polinômio p(t) = at
2 + bt + c ao vetor v = (a, b, c). Então, v Î Nu(L) se e somente se v = ( b, b, b), que é o vetor genérico do subespaço Nu(L) e, de ( b, b, b) = b( 1, 1, 1) e podemos afirmar que Nu(L) = [( 1, 1, 1)]. Como o conjunto gerador é l.i, uma base de Nu(L) é b2 = { t2 + t 1}.
2.2.9 Exemplo. Seja L:
M22 ® M22 a transformação linear definida por.
Verifique que dim Nu(L) + dim Im(L) = dim
M22.Solução.
Se A é um vetor do núcleo de L, temos L(A) = 0. Assim,
Logo, o vetor genérico do subespaço Nu(L) é e dim Nu(L) = 2, pois
, com b e d não nulos, é uma base de Nu(L);
O vetor genérico do subespaço Im(L) é e uma base para Im(L) é
, para a ¹ 0 e c ¹
0. Logo, a dim Im(L) = 2.
Assim, dim Nu(L) + dim Im(L) = 2 + 2 = 4 = dim
M22. (Lembre que o espaço vetorial M22 está em correspondência com R4).
Observação: Nesta unidade trabalharemos com uma única lista de exercícios envolvendo todas as sub-unidades 2.1, 2.2, 2.3 e 2.4