1.3 COMBINAÇÃO LINEAR

 

 

            Uma das características mais importantes de um espaço vetorial é a obtenção de "novos vetores" a partir de um conjunto pré fixado de vetores desse espaço. Por exemplo, ao fixarmos em R3 o vetor u = (2, – 1, 3), podemos obter a partir de u qualquer vetor v do tipo v = a.u, onde a Î R. Assim, o vetor w = (– 4, 2, – 6) é obtido de u quando a = – 2. Na verdade, qualquer vetor da reta que contém u é "criado" por u, ou, equivalentemente, podemos dizer que u "gera" a reta que o contém.
            Revisando e, ao mesmo tempo, ilustrando um pouco mais a definição que segue, sabemos que todo vetor  v = (a, b, c) em R
3 pode ser
escrito na forma

v = ai + bj + ck

onde i = (1, 0, 0), j = (0, 1, 0) e k = (0, 0, 1), ou seja, v é uma combinação linear dos vetores i, j, k. Esse conceito, como veremos a seguir, não se restringe ao R2 ou R3.

 

1.3.1 Definição.

Sejam v1, v2, ..., vn vetores quaisquer de um espaço vetorial V e a1, a2, ..., an números reais. Então todo vetor vÎ V da forma

v = a1v1 + a2v2 + ... + an vn

            é um elemento de V ao que chamamos combinação linear de v1, v2, ..., vn.

 

1.3.2 Exemplo. Em R3, o vetor v = (– 7, 7, 7) é uma combinação linear dos vetores u1 = (– 1, 2, 4) e u2 = (5, – 3, 1), pois:

(– 7, 7, 7) = 2(– 1, 2, 4) – 1(5, – 3, 1).¨

 

1.3.3 Exemplo. Em M23,

de forma que o vetor

image480.gif (215 bytes)é uma combinação linear dos vetores do conjunto e também de .¨

            Esse exemplo mostra que um mesmo vetor pode ser escrito como combinação linear de diferentes conjuntos de vetores.

 

1.3.4 Exemplo. Em Pn, qualquer polinômio pode ser escrito como combinação linear dos monômios 1, x, x2, ..., xn. Esclarecendo e                   particularizando: em P3, o polinômio p(x) = – 3 + 4x2 é uma combinação de 1, x, x2, x3, pois:

– 3 + 4x2 = – 3.1 + 0.x + 4.x2 + 0.x3

            Observamos aqui que qualquer polinômio p(x) = a + bx + cx2 + dx3 em P3 é obtido através de uma combinação linear dos vetores do conjunto {1, x, x2, x3} pois:

a + bx + cx2 + dx3 = a.1 + b.x + c.x2 + d.x3

            Já o polinômio q(x) = 2 + 3x + x2 + 2x3 + 4x4 não é uma combinação linear dos vetores 1, x, x2, x3. Dizemos, neste caso, que o polinômio q(x) não pertence ao subespaço gerado pelos vetores 1, x, x2 e x3. Isto nos leva à seguinte definição.

 

1.3.5 Definição.

Um conjunto de vetores {v1, v2, ..., vn} de um espaço vetorial V é dito gerador de V se todo vetor em V pode ser escrito como combinação linear desses vetores. Ou seja, para todo v Î V, existem escalares a1, a2, ..., an, tais que

v = a1v1 + a2v2 + .. + anvn

            Usa-se a notação V = [v1, v2, ..., vn], que se lê "V é gerado pelos vetores v1, v2, ..., vn."

            Uma vez que todo subespaço de um espaço vetorial V é também um espaço vetorial, a definição acima se extende a todos os subespaços vetoriais de V.

            O conjunto de vetores gerados por v1, v2, ...,vn, isto é,

W = {v Î V / v = a1v1 + a2v2 + ... + anvn}

é um subespaço vetorial de V. (A prova é feita em 1.2.6).

 

1.3.6 Exemplo. Vimos, no item 1.3.4, que o espaço vetorial P3 é gerado pelos vetores 1, x, x2, x3, pois

P3 = {p(x) / p(x) = a.1 + b.x + c.x2 + d.x3}.

            Podemos, então, escrever P3 da seguinte forma:

P3 = [1, x, x2, x3].¨

 

1.3.7 Exemplo. Consideremos em R2 o vetor v = (1, 1) e determinemos o subespaço W gerado por v, ou seja,

W = [v] = {u Î R2 / u = a.v}

            Facilmente se percebe que W ¹ R2 pois tomando t = (1, 2) vemos que t ¹ a.v, " a Î R, ou seja, t Ï W. Voltando a definição de W, temos:

W = {(x, y) Î R2 / (x, y) = a(1, 1)}

de forma que , isto é, y = x.

            Assim, W = {(x, y) Î R2 / y = x} ou W = {(x, x) / x Î R }. Geometricamente, W é a reta bissetriz dos quadrantes ímpares.

comb_l1.gif (863 bytes)

 

            Observe que se tomarmos w = (2, 2), o subespaço gerado por w é o mesmo que o gerado por v, e que pode ser gerado por ambos, isto é,

W = [v] = [w] = [v, w]

Isto vale porque w = 2.v, ou seja, v e w estão sobre a mesma reta.

            Na verdade, se tivermos n vetores v1, v2, ..., vn, todos não nulos e sobre a mesma reta suporte, podemos dizer que a reta é gerada por cada um dos vetores ou por "k" deles, onde k pode variar de 1 a n.¨

 

1.3.8 Exemplo. Para encontrarmos um conjunto de geradores do R2 e do R3, basta lembrar que:

            a) todo vetor v = (x, y) Î R2 pode ser escrito na forma

v = xi + yj,

onde i = (1, 0) e j = (0, 1). Assim, R2 = [i, j].

            b) todo vetor v = (x, y, z) Î R3 pode ser escrito na forma

v = xi + yj + zk

de forma que R3 = [i, j, k].¨

 

1.3.9 Exemplo. Seja W = [(1, 1, 2), (2, – 1, 1)]. Vimos, seguindo a definição 1.3.5, que W é um subespaço vetorial do R3. De posse do que dispomos até o momento podemos determinar W das seguintes formas:

            a) Aplicando a definição e resolvendo o sistema resultante.

W = {(x, y, z) Î R3 / (x, y, z) = a(1, 1, 2) + b(2, – 1, 1)}

Então .                                                         

O sistema tem solução somente se – xy + z = 0 ou x + yz = 0. Assim:

W = {(x, y, z) Î R3 / x + yz = 0}

ou seja, W é o plano definido pela equação x + yz = 0.

            b) Utilizando 1.2.5:

1o) W não é a origem pois quem gera a origem é o vetor nulo.

2o) W não é uma reta pois os vetores que geram W não são múltiplos, isto é, (1, 1, 2) ¹ a(2, – 1, 1) para todo a Î R.                                     

3o) Como os dois vetores não são múltiplos, eles determinam um plano. Assim, qualquer outro vetor (x, y, z) do plano deve satisfazer:

            Logo, o subespaço W gerado pelos vetores (1, 1, 2) e (2, – 1, 1) é o plano que passa pela origem definido pela equação x + yz = 0, ou seja, W = {(x, y, z) Î R3 / x + yz = 0}.¨

 

1.3.10 Exemplo. Para gerar o espaço M22 = são necessários, no mínimo, 4 vetores, pois os vetores de M22 são formados por 4 elementos (aij) de valores quaisquer. Uma maneira simples de encontrar geradores de um espaço é buscar uma combinação linear de vetores que resulte na forma genérica apresentada.

Por exemplo:

ou

etc...

Assim podemos dizer que

M22 =

ou

M22 =

            Observemos que existem infinitas possibilidades para a combinação linear acima. Além disso, é também verdadeiro afirmar que:

M22 =

pois, uma vez identificado um conjunto mínimo de geradores de um espaço, podemos a ele acrescentar quantos vetores quisermos, desde que sejam do mesmo espaço.

Veja que o vetor é uma combinação linear dos outros vetores pois

,

de forma que ele é "criado" por estes. Essa observação foi também explorada no exemplo do item 1.3.7.¨

 

            No estudo da Álgebra Linear, muitos conceitos estão estreitamente ligados à obtenção de um conjunto com um número mínimo de vetores que geram um espaço vetorial V. Na verdade, não é uma tarefa muito difícil encontrar um conjunto de geradores de um espaço que satisfaça essa condição. No entanto, quando é solicitado mais de um conjunto ou quando é necessário que identifiquemos, numa coleção de vetores, quais e quantos são suficientes e necessários para gerar um determinado espaço, o trabalho (braçal) pode se tornar cansativo e complicado. Se, por outro lado, conhecemos como os vetores se relacionam entre si, a tarefa torna-se mais simples e a compreensão da teoria mais rica.

            Com este propósito, seguimos com os conceitos de dependência e independência linear de vetores.

            Consideremos, apenas para introduzir os conceitos citados, V = R2 e os vetores u = (1, 1) e v = (2, 2). Como já visto no exemplo 1.3.7, o subespaço W gerado por u ou v ou ambos é

W = {(x, y) Î R2 / y = x}

que representa a reta bissetriz dos quadrantes ímpares.

Geometricamente os vetores u e v encontram-se sobre a mesma reta suporte,

comb_l2.gif (791 bytes)

e v = 2u Þ v – 2u = 0.

            Tomemos agora os vetores i = (1, 0) e j = (0, 1). Sabemos, por 1.3.8, que eles geram o R2 e que não são múltiplos. Isto é,

bi ¹ aj para todo a, b Î R*,

de forma que

biaj ¹ 0

ou

bi + cj ¹ 0 se b ¹ 0 e c ¹ 0.

            No primeiro caso, v – 2u = 0, é possível obter o vetor nulo através de uma combinação linear, com escalares não todos nulos, dos vetores v e u. No segundo, bi + cj = 0 somente se b = c = 0. Dizemos, então, que os vetores v e u são linearmente dependentes e que os vetores i e j são linearmente independentes, significando que u e v estão relacionados entre si através de uma combinação linear, e que i e j não se relacionam por uma combinação linear.

            Consideremos agora V = R3 e os vetores u = (1, 2, 3), v = (– 4, 1, 5) e w = (– 5, 8, 19). Procedendo como no exemplo 1.3.9 e conhecendo os subespaços de R3, temos que estes vetores geram um plano que passa pela origem ou o próprio R3 (pense no porquê disso). Tomando apenas 2 dos 3 vetores, por exemplo, u e v, obtemos o subespaço que estes dois geram:

ou seja, o subespaço gerado por u e v é o plano de equação 7x – 17y + 9z = 0. Substituindo as componentes de w na equação obtida temos:
7(– 5) – 17(8) + 9(19) = 0, ou seja, w também pertence a este plano. Isto significa que w é "criado" por u e v, ou melhor, existem escalares a e b tais que

w = a.u + b.v

            Ao resolvermos o sistema obtemos:

w = 3u + 2v,

de forma que

w – 3u – 2v = 0.

            Desta maneira, é possível obter o vetor nulo através de uma combinação linear dos vetores u, v e w sem que tenhamos que multiplicá-los todos por zero. De acordo com o anteriormente exposto, dizemos que os vetores u, v e w são linearmente dependentes.

            Generalizando temos a seguinte definição:

 

1.3.11 Definição.

Sejam v1, v2, ..., vn, vetores de um espaço vetorial V. Diz-se que o conjunto {v1, v2, ..., vn} é linearmente independente (l.i.), ou que os vetores v1, v2, ..., vn são l.i., se a equação

a1v1 + a2v2 + ... + anvn = 0

implica que a1 = a2 = ... = an = 0. No caso em que a igualdade se verifique para algum ai ¹ 0 diz-se que {v1, v2, ..., vn} é linearmente dependente (l.d.), ou que os vetores v1, v2, ..., vn são l.d.

 

1.3.12 Propriedades da dependência e independência linear

            Propriedade 1. Um único vetor v é l.d. se e somente se v = 0.

Prova.

            De fato, l .v = 0, " l ¹ 0. ¨

 

            Propriedade 2. Um conjunto de vetores {v1, v2, ..., vn} é l.d. se e somente se um destes vetores for uma combinação linear dos outros.

Prova.

            (Þ ) Sejam v1, v2, ..., vn l.d. e consideremos a equação

a1v1 + a2v2 + ... + anvn = 0.

            Segundo a definição dada, ao menos um dos coeficientes é diferente de zero. Suponhamos aj ¹ 0 para algum j.

Então

vj =

e portanto

ou seja, vj é uma combinação linear dos outros (n – 1) vetores.

            (Ü ) Consideremos, para algum j, que vj é uma combinação linear dos outros (n – 1) vetores do conjunto {v1, ..., vj, ..., vn}. Então

vj = b1v1 + ... + bj-1vj-1 + bj+1 vj+1 + ... + bnvn.

Daí

b1v1 + ... – 1vj + ... + bnvn = 0 com bj = – 1 ¹ 0 e,

{v1, v2, ..., vn} é l.d.¨

Observações. Decorre dessa propriedade o que segue:

Dois vetores u e v são l.d. se e somente se um é múltiplo escalar do outro.
Por exemplo, os vetores (– 1, 1, 2) e (2, – 2, 4) são l.d. pois

(2, – 2, – 4) = – 2(– 1, 1, 2).

Três vetores em R3 são l.d. se e somente se são coplanares .

Prova.

            (Þ ) Sejam u = (x1, y1, z1), v = (x2, y2, z2) e w = (x3, y3, z3) vetores l.d. Então, pela propriedade 2, podemos escrever

w = au + bv,

ou seja, w = (ax1 + bx2, ay1 + by2, az1 + bz2). Daí, utilizando propriedades de determinante, temos:

Ou seja,

(u, v, w) =

o que prova que os vetores u, v e w são coplanares (propriedade de produto misto).

            (Ü ) u, v e w são coplanares (hipótese), então (u, v, w) = 0.

Tomemos a equação

a1u + a2v + a3w = 0.

Devemos provar que ai ¹ 0 para algum i = 1, 2, 3.

Da equação resulta o sistema homogêneo

que tem a representação matricial

Observemos que a matriz A dos coeficientes é tal que

det (A) = (u, v, w)t = 0

Assim o sistema é compatível e indeterminado, o que significa que tem infinitas soluções. Portanto os escala-

res ai não são obrigatoriamente todos nulos e os vetores u, v e w são l.d.¨

Para verificar a dependência ou independência linear de 3 vetores em R3 podemos utilizar o enunciado anterior na forma:

 

            Exemplo. Os vetores u = (2, – 1, 3), v = (– 2, 1 ,– 3) e w = (1, 0, 1) são l.d. pois

            Também podemos pensar da seguinte forma: u e v são colineares (pois são múltiplos). Então, não importa como seja definido w, pela propriedade 2 sendo um dos vetores combinação linear dos outros, no caso, u = – 1v + 0w, temos que o conjunto {u, v, w} é l.d. ¨

Consideremos a matriz K, cujas linhas são formadas pelos vetores v1, v2, ..., vn, ou seja,

,

e suponhamos que vj = a1v1 + a2v2 + ... + aj-1vj-1 + aj+1vj+1 + ... + anvn.

Então pela propriedade 2, os n vetores dados são l.d. Vamos ver, neste caso, o que acontece com as linhas da matriz K.

Apliquemos sobre as linhas de K a seguinte sequência de operações elementares:

Observe que a linha ocupada pelo vetor vj foi toda anulada.

            Isto aconteceu porque a linha j da matriz K é uma combinação linear das outras linhas. Assim, para mostrarmos que um conjunto é l.d. basta anularmos, através de operações elementares, ao menos uma linha de K. Ainda, o número de vetores l.i. corresponde ao número de linhas que não se anulam em K.

 

            Exemplo. Os vetores u = (2, – 1, 1, 3), v = (1, 0, – 1, 2), w = (1, 3, – 1, 1) e t = (– 1, 2, 1, 0) são l.i. pois nenhuma linha de K pode ser anulada:

            Nota. Não é necessário realizar operações elementares sobres as linhas de K até chegar (ou tentar chegar) na matriz identidade pois isto é válido somente para matrizes quadradas. As operações podem ser suspensas quando for possível garantir que nenhuma linha se anula ou que mais nenhuma se anula. No exemplo da observação marc4.gif (72 bytes), a terceira matriz já garante isso pois os elementos k11, k22, k34 e k43 não podem ser anulados.

 

            Exemplo. Retomemos o enunciado do exemplo 1.3.9. Podemos utilizar a última observação para determinar o plano W gerado pelos vetores (1, 1, 2) e (2, – 1, 1). Seja u = (x, y, z) um vetor qualquer do plano W. Então u é uma combinação linear dos vetores dados, de forma que a última linha da matriz , após serem aplicadas operações elementares convenientes, deve se anular. Vejamos como fazer isto:

Aqui, – x y + z = 0, ou seja,

W = {(x, y, z) Î R3 / x + yz = 0}. ¨

 

            Propriedade 3. Um conjunto de n vetores em Rm é sempre l.d. se n > m.

Prova.

Sejam v1, v2, ..., vn vetores em Rm e consideremos escalares a1, a2, ...,an, tal que

a1v1 + a2v2 + ... + anvn = 0                                  (A)

Tomemos vi = (x1i, x2i, ..., xmi), i = 1, 2, ..., n. A equação anterior resulta no sistema linear homogêneo

que tem m equações e n incógnitas. Se n > m, temos um sistema compatível e indeterminado, ou seja, ele admite infinitas soluções. Assim, a equação (A) é válida com ai ¹ 0 para algum i = 1, 2, ..., n, o que prova que os vetores v1, v2, ..., vn são l.d.¨

 

            Exemplo. Quatro vetores em R3 são l.d. Tomemos u = (2, – 3, 4), v = (4, 7, – 6), w = (18, – 11, 4) e t = (2, – 7, 3). A equação

a.u + b.v + c.w + d.t = 0

origina o sistema

que é compatível e indeterminado. Assim os escalares a, b, c e d não são todos nulos (obrigatoriamente) e os vetores u, v, w e t são l.d. (refaça este exemplo usando a matriz K da observação marc4.gif (72 bytes) acima).¨

 

            Propriedade 4. Um conjunto de vetores l.i. em Rn contém, no máximo, n vetores.

            Essa propriedade é uma conseqüência imediata da propriedade anterior (Propriedade 3).

 

            Exemplo. Consideremos aqui os vetores do exemplo anterior.

            Tomando os conjuntos unitários {u}, {v}, {w} e {t}, todos são l.i. (Propriedade 1).

            Tomando o conjunto {u, v}, que contém 2 vetores, ele é l.i. pois u e v não são múltiplos.

            O conjunto {u, v, t}, de 3 vetores, é tal que

ou seja, é l.i.

            O conjunto {u, v, w, t}, como já vimos, é l.d.¨

 

            Propriedade 5. Qualquer conjunto que contenha o vetor nulo é l.d.

Prova.

            Seja b = {v1, v2, ..., vk, 0} um conjunto de vetores. Aqui não interessa se os k primeiros vetores são l.i. ou l.d. Independentemente disso a equação

a1v1 + a2v2 + ... + akvk + l .0 = 0

é verdadeira para a1 = a2 = ... = ak = 0 e l um número real qualquer. Assim, pela definição 3, o conjunto b é l.d.¨

 

            Propriedade 6. Seja A uma matriz quadrada e b o conjunto formado pelos vetores que compõem as linhas (ou colunas) de A. b é l.i. se, e somente se, det(A) ¹ 0.

Prova.

b é l.i Û Ax = 0 tem apenas a solução trivial x = 0
Û det (A) = 0.¨

Observação. Na prática a propriedade acima é utilizada para o caso de três vetores em R3.

 

            Propriedade 7. Qualquer conjunto de n vetores l.i. em Rn gera o Rn.

Prova.

            Seja b = { v1, v2, ..., vn} um conjunto de n vetores l.i. em Rn, onde vi = (x1i, x2i, ..., xni). Para mostrar que b gera o Rn devemos provar que todo vetor v = ( y1, y2 , ..., yn) de Rn se escreve como combinação linear dos vetores de b . Isto é, que existem escalares a1, a2, .., an tais que

v = a1v1 + a2v2 + ... + anvn.

            Substituindo os vetores nessa equação temos:

(y1, y2, ..., yn) = a1( x11, x21, ..., xn1) + ... + an( x1n, x2n, ..., xnn),

que resulta no sistema

            A representação matricial do sistema é Ax = b, onde

            Observemos que as colunas de A são formadas pelos vetores de b que, por hipótese, são l.i. Então pela Propriedade 6, det(A) ¹ 0. Assim, o sistema Ax = b é compatível e determinado, isto é, tem uma única solução . Isto mostra que v é uma combinação linear dos vetores de b.

 

Observação. Além de provarmos a propriedade também mostramos que os escalares a1, a2, ..., an são únicos. Isto será útil futuramente.

 

1.3.13 Exemplo. Três vetores l.i em R3 geram o R3. Sejam v1 = (2, – 1, 4), v2 = (1, 0, 2) e v3 = (3, – 1, 5). Então:

de forma que b = {v1, v2, v3} é um conjunto l.i. Assim, b gera o R3, ou seja, todo vetor v = (x, y, z) Î R3 se escreve (de forma única) como combinação linear dos vetores de b (mostre isso como exercício).

            Convém lembrar o que isto significa: que o R3 é "criado" por estes três vetores. Na verdade, quaisquer três vetores l.i. do R3 "criam" o R3. Isto é o que afirma a Propriedade 7.

 

1.3.14 Exemplo. O conjunto a = {( 1, 3, – 1), ( 2, 1, 0), ( 1, 2, – 1), ( 3, 2, 1)} gera o R3 mas não é l.i., pois 4 vetores em R3 são l.d. (Propriedade 3). No entanto, se três vetores de a são l.i. então estes geram o R3 (Propriedade 7).

            Podemos utilizar o procedimento dado na observação marc4.gif (72 bytes) para obtermos de a os vetores l.i. que ali estão.                                        

.

Observemos que os elementos k11, k23 e k32 não podem ser zerados, de forma que as linhas 1, 2 e 3 não se anulam. Estas linhas correspondem, respectivamente, aos vetores ( 1, 3, – 1), ( 2, 1, 0) e ( 1, 2, – 1) de a . Assim

a1 = {( 1, 3, – 1), ( 2, 1, 0), ( 1, 2, – 1)}

é um conjunto l.i. de 3 vetores que geram o R3. Podemos tomar os vetores resultantes, de modo que

a2 = {(1, 3, – 1), ( 0, 0, 2), ( 0, – 1, 0)}

também é um conjunto l.i. de 3 vetores que geram o R3.

 

1.3.15 Exemplo. Quando o espaço em questão não é o Rn, como no caso das matrizes e de polinômios, para verificar a dependência linear (ou independência) de vetores nestes espaços, utilizamos dos recursos exibidos nos itens seguintes:

a)  Sejam vetores de M23.

1a Possibilidade: (definição)

Escrevemos a equação

a1A1 + a2A2 + a3A3 = 0

E procuramos os valores de a1, a2 e a3:

é equivalente ao sistema

cuja única solução é a1 = a2 = a3 = 0 (façam como exercício).

        Assim o conjunto {A1, A2, A3} é l.i.

2a Possibilidade: Seja

a matriz cujas linhas são formadas por A1, A2 e A3. Tentemos, através de operações elementares sobre as linhas de K, zerar uma linha da matriz:

. Observemos que nenhuma linha pode ser zerada. Assim {A1, A2, A3} é l.i.

Ainda, ao colocarmos os vetores nas linhas de K estamos relacionando cada vetor de M23 com sêxtuplas ordenadas do R6. Sabemos que 6 vetores l.i. do R6 geram o R6, de forma que os 3 vetores, se considerados como sêxtuplas, (1, 0, 2, 3, 1, – 1),
(– 1, 1, 4, 2, 3, 0), (– 1, 0, 1, 1, 2, 1) não geram o
R6. Da mesma forma podemos dizer que A1, A2 e A3 não geram M23 e que são necessários 6 vetores l.i. de M23 para gerar M23.

b) Podemos representar qualquer polinômio p(x) Î Pn por uma (n + 1)-upla de Rn+1 da seguinte forma:

p(x) = a0 + a1x + ... + anxn Û p(x) = (a0, a1, ..., an).

Assim, os polinômios

p1(x) = 2 + 3x

p2(x) = – 1 + 2xx3

p3(x) = 3x2 + 2x3

p4(x) = 3 – 4x3

podem ser representados pelas quádruplas ordenadas

v1 = (2, 3, 0, 0)

v2 = (– 1, 2, 0, – 1)

v3 = (0, 0, 3, 2)

v4 = (3, 0, 0, – 4).

            Para verificar se os polinômios são l.i. ou l.d. trabalhamos em R4:

            Observemos que os elementos da diagonal principal não podem ser zerados garantindo que nenhuma linha de K é zerada. Assim, os polinômios p1(x), p2(x), p3(x) e p4(x) são l.i. e, portanto, geram P3.¨

 

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